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Eventos Climáticos Impulsionam Surto de Oropouche, Revela Pesquisa

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© Bruna Lais Sena do Nascimento/Laboratório de Entomologia Médica/SEARB/IEC

Recentemente, uma análise aprofundada revela que o aumento de casos de febre oropouche na América Latina está ostensivamente ligado às mudanças climáticas e a fatores ambientais. Este fenômeno preocupa, uma vez que o vírus responsável pela doença, o Orthobunyavirus oropoucheense, tem mostrado potencial para disseminação mais ampla, impulsionado por condições ambientais favoráveis à proliferação do mosquito vetor Culicoides paraensis, também conhecido como maruim.

Mudanças climáticas como catalisadoras da disseminação

O estudo publicado na revista The Lancet destaca que eventos climáticos extremos, como o fenômeno El Niño, exerceram um papel central na ampliação da circulação do vírus. As variáveis climáticas, principalmente padrões de temperatura e precipitação, parecem ter sido responsáveis por cerca de 60% do aumento na disseminação da febre oropouche. Essas condições podem aumentar significativamente as populações de maruins, além de potencializar a transmissão da doença. O aumento da temperatura aumenta a atividade e a reprodução dos insetos, enquanto mudanças na umidade favorecem habitats ideais para esses vetores.

Conforme os pesquisadores, essas condições criam um cenário ideal para a intensificação da replicação viral, bem como para a proliferação das populações de maruins em áreas que antes apresentavam menor risco. Essas mudanças ambientais podem levar à elevação do número de mosquitos infectados, aumentando a chance de transmissão à população humana. Assim, fatores climáticos atuam como uma espécie de “botão de ligar” para surtos futuros, estabelecendo uma relação direta entre o clima e a saúde pública.

Expansão da doença e a subnotificação

Embora a febre oropouche fosse considerada um mal endêm na Região Amazônica com poucos casos em outros locais, dados recentes indicam um avanço impactante na sua disseminação. Desde 2023, o número de registros no Brasil passou de 833 para 13.721 em 2024, com pelo menos quatro óbitos confirmados, além de uma morte em investigação até o momento. Este aumento expressivo enfatiza uma possível subnotificação de casos.

Estudos multidisciplinares, incluindo análises sorológicas e modelos espaciais, indicam que a prevalência de anticorpos IgG — que evidenciam infecção anterior pelo vírus — atingiu uma taxa média de 6,3%, sendo até 10% em certas regiões da Amazônia. É importante notar que amostras positivas foram encontradas em 57% das localidades amostradas, incluindo áreas que ainda não relataram casos adoentados oficialmente. Isso sugere que a doença estaria circulando de forma mais disseminada do que o oficial, muitas vezes confundida com dengue devido à semelhança de sintomas.

A subnotificação provavelmente ocorre por diversas razões. Em primeiro lugar, há uma similaridade clínica significativa entre febre oropouche e dengue, o que leva a diagnósticos equivocados. Além disso, a insuficiência de testes específicos para oropouche e a limitada vigilância em áreas remotas dificultam a detecção precoce e precisa da doença. Como resultado, muitas infecções podem passar despercebidas por sistemas de saúde sem a devida distinção.

Região de risco e estratégias de controle

O mapa de risco gerado pelos modelos espaciais mostra que as regiões costeiras do Brasil, particularmente do Espírito Santo ao Rio Grande do Norte, estão entre as mais vulneráveis ao aumento na transmissão do vírus. Também há maior probabilidade de propagação na faixa que inclui Minas Gerais ao Mato Grosso e toda a extensa região amazônica. Essas áreas, historicamente menos associadas à febre oropouche, agora representam focos potenciais de surtos futuros.

Os especialistas recomendam uma intensificação na vigilância epidemiológica nestas regiões, mesmo na ausência de casos confirmados, devido ao risco elevado. Testes diagnósticos específicos e estratégias de controle vetorial devem ser prioridade. Enquanto as campanhas tradicionais de combate ao Aedes aegypti oferecem um modelo, é necessário adaptar essas ações para incluir o controle do maruim, que é o vetor principal na transmissão do vírus.

Além disso, os pesquisadores defendem a necessidade de aprofundar estudos sobre a doença e acelerar o desenvolvimento de vacinas específicas. Uma abordagem multidisciplinar que envolva entomologia, epidemiologia e saúde pública é essencial para compreender os fatores que facilitam a transmissão e estabelecer medidas efetivas de combate.

Conclusão

Com o impacto do clima cada vez mais evidente na saúde global, a febre oropouche é um exemplo claro da necessidade de integrar estratégias ambientais e de saúde. A observação da relação entre mudanças climáticas e aumento de doenças vetor-transmitidas reforça a importância de um monitoramento constante das condições ambientais e a implementação de ações preventivas.

A expansão da doença, os níveis potencialmente subnotificados e a necessidade de uma resposta rápida e coordenada fazem dessa doença uma preocupação crescente que exige atenção permanente. À medida que o clima continua a mudar, é provável que vejamos mais doenças emergentes e reemergentes, demandando inovação nas estratégias de vigilância, diagnóstico e controle vetorial.

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